Caros amigos, me permitam lembrar um pensamento de Santo Irineu de Lyon, considerado como o mais eminente teólogo da igreja dos primeiros séculos: “A glória de Deus é o homem vivente, e a vida do homem é a visão de Deus”. Certamente Deus é amigo do homem e da vida, e os nossos maiores anseios revelam esta procura, e o nosso olhar que contempla o mundo, as pessoas e as coisas, os fatos e acontecimentos, revela como o Criador ama sua criatura e se dobra diante dela, comovido pelo estupor de sua vida.
Não conheci o jornalista e repórter José Meirelles Passos pessoalmente, como muitos que hoje aqui estão para honrar sua memória, evocar a lembrança daquilo que foi grande e nobre em toda a sua existência. No entanto, como alguém também atento as notícias,decerto com a visão de sacerdote, creio que o jornalismo parece abrir a porta do mundo para enxergá-lo em sua inteireza e devolvê-lo mais integro e perfeito,acreditando que este ofício de relatar todos os dias com objetividade os fatos mais sublimes e grotescos, busca e pergunta, na verdade, qual é o rosto do homem na terra, e, ao mesmo tempo, a melhor tradução de sua dignidade e indigência sem um hiato em sua humanidade, que parece ocultar muitas vezes uma espécie de redenção no universo que ele vive. Por isso, o verdadeiro jornalista se configura aos meus olhos como uma espécie de um deus humano que tem certa onipotência para apoderar-se da notícia com tamanha singularidade que nada lhe escapa e onisciência para conhecer a medula do fato em si apreendido e o desdobramento de suas raízes mais profundas. Este exercício verdadeiro e incansável da profissão abarcou a vida do jornalista Meirelles. Numa entrevista para o site da ABI ele falou sobre sua definição de jornalismo: "um trabalho que me dá prazer, que me ensina algo todos os dias. Ele me dá chances de ver a história de perto, de registrá-la, de aprender a viver. A profissão me leva a conhecer o mundo, algumas vezes do lado do avesso".
Mas se os deuses não morrem, o homem, também divino, insiste em viver, em ensaiar aqui na terra o lampejo de sua possível imortalidade. Com o seu trabalho operoso, vivaz, diligente e sereno, daquilo que todos conhecemos da prática de seu jornalismo,Meirelles, mesmo com sua discrição e elegância tão bem ditas entre seus amigos de profissão, sem considerar-se um deus ou um papa da reportagem, sempre mereceu um lugar neste Olimpo.
Esta missa então abraça os seus feitos e virtudes, dons e talentos, aquilo que igualmente era sua inquietação,diante das notícias e fatos do mundo em mil conflitos que ele cobria destemido, seu bom humor e risos entre os seus mais íntimos e leais amigos, e suas alegrias e dores.
Esta missa ilumina a vida da alma que ele portava também iluminada, pela esperança de um mundo mais digno que ele acreditou e noticiou com belos e inesquecíveis relatos e imagens eloqüentes, com competência técnica e profissional.
José Meirelles Passos, feliz estrangeiro, que nos informava o coração do mundo inteiro com seu olhar brasileiro! A eternidade de Deus lhe abraça com mãos fortes e lhe convida: vem ser meu correspondente nos céus, que boas novas também existem aqui; e não esqueça o bloquinho americano amarelo.
Pe. Silmar Alves Fernandes
Homilia escrita em Sta. Teresa, Rio, 6.09.2011
Missa celebrada na Paróquia Sta. Mônica –Leblon,Rio, 7.09.2011
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